Quanto mais se intensificar a guerra tarifária entre Estados Unidos e China, mais próximos esses países estarão de um acordo, o que pode afetar diretamente o agronegócio brasileiro. A avaliação é da diretora-executiva da Vallya Agro, Larissa Wachholz,
Avaliação é da diretora-executiva da Vallya Agro, Larissa Wachholz, que já foi assessora do Ministério da Agricultura para assuntos relacionados ao país asiático
A especialista já foi assessora especial do Ministério da Agricultura para assuntos relacionados à China, durante a gestão da então ministra Tereza Cristina, e tem larga vivência no país asiático, onde morou de 2008 a 2013 e para onde volta com frequência. Deve participar, inclusive, de um evento em 23 de abril em Xangai.
A guerra comercial entre as gigantes economias se intensificou nesta semana. Neste momento, as tarifas de importação impostas à China pelo presidente dos EUA, Donald Trump, estão em 125%. Já os chineses elevaram as taxas contra os EUA a 84%. Como tal situação é insustentável, já que ambos os países têm uma economia extremamente interconectada, Wachholz avalia que em algum momento Washington e Pequim terão de conversar e firmar acordos. E o Brasil, como maior exportador de produtos agropecuários para a China, pode ser diretamente afetado.
Para ela, grãos e carnes são os principais produtos que os Estados Unidos poderiam fornecer à China – exatamente os mesmos que o Brasil exporta para lá. Por isso, recomenda “cautela” ao agronegócio brasileiro neste momento tão volátil. Embora ela não arrisque dizer quando as negociações ocorrerão, acredita que a intenção da China é sempre manter um ambiente saudável no comércio global, do qual depende enormemente, tanto para vender quanto para comprar. Por isso a tendência seria negociar.
Confira, a seguir, os principais pontos da entrevista.
China e Estados Unidos estão se sobretaxando pesadamente na guerra tarifária imposta pelo país norte-americano. Na sua visão, até onde isso pode ir e como o agronegócio brasileiro deve ser afetado?
Larissa Wachholz – Isso me preocupa muito. Acho que, quanto mais essa guerra tarifária se intensificar, mais perto Estados Unidos e China ficam de um acordo comercial. Acho ser pouco provável que a escalada tarifária dure muito tempo. Uma hora esses países terão de se sentar à mesa e conversar, já que a economia de ambos é extremamente interligada.
Sob esta perspectiva, há um potencial de essa negociação, caso ocorra, ser prejudicial ao agronegócio brasileiro, na linha do que já vimos em janeiro de 2020, no acordo comercial Fase 1, assinado no primeiro mandato de Donald Trump. O acordo determinava que a China se comprometeria com compras agropecuárias dos Estados Unidos, o que não foi cumprido porque logo em seguida entramos na pandemia de covid-19, que desestruturou o comércio global.
Agora, em uma “reedição” da Fase 1, eu diria que o agronegócio estar na mesa de negociações é algo fundamental. Porque não tem muito para onde correr, em termos do que a China poderia se comprometer a comprar dos Estados Unidos. Não é que a China não vá mais comprar do Brasil, mas ela terá que direcionar determinadas compras para os Estados Unidos. Sob este aspecto, não estão mais em jogo a competência, a competitividade e a produtividade brasileiras.
Em que setores o agronegócio brasileiro poderia ser mais afetado?
Wachholz – Brasil e Estados Unidos exportam exatamente os mesmos produtos alimentares, ou seja, grãos e carnes. Isso nos torna competidores pelos mesmos mercados. E, no atual cenário de guerra tarifária, e com a China figurando como o principal comprador global dessas commodities, a concorrência entre Brasil e EUA pode ser um ponto de preocupação daqui para a frente
13/04/2025 11:19