Bovinos se alimentam em fazenda em Marabá, Pará, em outubro de 2021. © Bloomberg
(Bloomberg) — O Brasil, o maior exportador mundial de carne bovina, está em negociações avançadas para iniciar embarques ao Japão, de acordo com um grande grupo que representa o setor no país, um movimento que pode afetar as exportações dos Estados Unidos para a nação asiática.
O Brasil vem fornecendo ao Japão informações sobre seu sistema de produção e embarques por duas décadas, e agora a indústria está otimista de que o terceiro maior importador de carne bovina do mundo finalmente abrirá seu mercado, de acordo com Roberto Perosa, que anteriormente atuou no ministério da agricultura brasileiro e é o atual presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne Bovina.
“Não há mais problemas sanitários no Brasil”, disse Perosa em uma entrevista. Ao longo dos anos o Japão fez questionamentos ao Brasil sobre o controle de doenças, como febre aftosa, na cadeia produtiva. “Entendemos que há agora um momento político propício” após a visita do ministro da Agricultura do Japão, Taku Eto, ao país no ano passado, acrescentou ele.
O passo para permitir a entrada de carne bovina brasileira no Japão colocaria embarques rivais dos EUA em risco. Os EUA são atualmente um dos maiores fornecedores de carne bovina para o Japão, mas o país está lidando com uma grave escassez de gado que levou a um pico nas importações dos EUA de carne bovina do Brasil. Os futuros de boi gordo estão sendo negociados em níveis recordes, e a pressão deve durar pelo menos até 2026.
Mais da metade do consumo de carne bovina do Japão vem de importações, disse Perosa, acrescentando que o país é especialmente dependente de embarques de cortes usados como ingredientes pela indústria alimentícia. Atualmente, a maior parte dos suprimentos do país asiático vem dos EUA e da Austrália, a custos mais altos do que os do Brasil, afirmou ele.
“O Brasil pode complementar a produção local de carne bovina, pois geralmente consumimos menos do tipo de carne que o Japão demanda e temos uma alta capacidade de fornecimento”, disse ele.
Perosa deve visitar o Japão e o Vietnã, outro mercado-alvo para a carne bovina brasileira, no início de fevereiro. O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva tem uma viagem programada para março. Além disso, o quarto maior importador global de carne bovina, a Coreia do Sul, assim como a Turquia, são também prioridades do associação neste ano.
O presidente da Abiec estima que as exportações brasileiras de carne bovina devem crescer em torno de 10% em 2025, considerando a abertura de alguns desses mercados. A entidade está fortalecendo sua presença internacional e planeja abrir no primeiro semestre seus primeiros escritórios fora do país, em Washington, Bruxelas e Pequim.
No governo brasileiro, também há otimismo de que o Japão poderia abrir seu mercado este ano. “Com o ministro Taku Eto, as negociações sobre carne bovina melhoraram”, disse Luis Rua, secretário de comércio e relações internacionais no ministério da Agricultura. Ele disse que, embora o mercado japonês para a carne bovina brasileira possa não ser aberto até março, isso pode acontecer até o final deste ano.